Após 25 anos como procurador do Estado, Valdecir da Silva Maciel se despede da Procuradoria Geral do Estado de Rondônia com o sentimento de dever cumprido. Filho de Maria da Silva Maciel e de Manuel Estelito Maciel, o ex-procurador geral do Estado nasceu em Porto Velho e sempre foi muito trabalhador. Aos 12 anos já tinha seu primeiro emprego no qual sua responsabilidade era cuidar dos cachorros de uma casa e fazer a limpeza do quintal.
O trabalho, porém, não o impediu de ter uma infância sadia e feliz. De acordo com seu relato, naquela época, convivia com muitos tios, tias e com seus 6 irmãos, então brincava muito e em sua memória guarda boas recordações.
Com 14 anos foi funcionário em uma oficina e de lá só saiu para servir o exército no 54º Batalhão de Infantaria em Humaitá – local em que permaneceu por 11 meses até que saiu, e em 1977, com a Transamazônica já asfaltada, pegou um ônibus e foi para Manaus com o intuito de fazer faculdade. Diante da impossibilidade de conseguir estudar na capital do Amazonas, Valdecir volta para Porto Velho, onde trabalha por mais um tempo para juntar dinheiro e se muda para São Paulo onde viveu por cerca de 9 anos.
Lá, ele se formou em Direito pela Universidade de Mogi das Cruzes e retornou à sua cidade natal, onde conheceu a Magali – com quem se casou em 1988 e permanece até hoje.
Pai do Bruno, de 34 anos, e da Luiza, de 24 anos, ele se prepara para ganhar mais dois netos. Gêmeos! Ao todo serão 4 netos, pois já é avô do Diego Henrique e Arthur Valdecir. Ou seja, “trabalho” é o que não vai faltar na pós-aposentadoria. Até mesmo pelo fato de continuar atuando com advogado – algo que ele não abre mão.
São muitas histórias para contar. E com tanta vitalidade, ainda terá muitas para viver.
Agradecemos por toda dedicação durante sua permanência na Procuradoria Geral do Estado de Rondônia (PGE-RO) e desejamos sucesso nesta nova etapa!
Conheça um pouco mais da trajetória do ex- procurador geral do Estado na PGE acompanhado a entrevista a seguir:
Qual a sua experiência profissional antes da PGE?
Exerci a advocacia desde o primeiro ano da faculdade para ter condições de me manter. Era um emprego parecido com um estágio. Quando terminei o curso, comecei a advogar em São Paulo mas não demorou muito e voltei logo para Porto Velho. Cheguei aqui em 1987 e advoguei com a inscrição de São Paulo. Em 1988 eu transferi minha OAB para Porto Velho onde advoguei bastante no meu próprio escritório.
Quando o senhor ingressou na PGE e como foi?
Ingressei em 26 de novembro de 1993 por meio de concurso público.
Em que momento decidiu pela carreira de procurador do Estado?
Eu nunca pensei em fazer concurso, sempre quis advogar. Mas analisando as carreiras, percebi que como procurador eu continuaria sendo advogado – por isso a escolhi. Continuaria tendo liberdade para advogar nas horas vagas e trabalharia como advogado do Estado sendo procurador.
Como era a PGE quando o senhor entrou?
A PGE era uma instituição ainda nova, mas já bastante respeitada. Lembro que na época tinha uma das melhores bibliotecas jurídicas de Rondônia. Para fazer trabalho jurídico nós tínhamos bastante material. Era manual e visual na época, ainda usávamos a máquina de escrever. Uma experiência muito proveitosa. Sempre gostei de pesquisar e me encontrei na Procuradoria.
Quem ingressou junto com o senhor na PGE que está até hoje?
O procurador geral atual, o doutor Juraci e o doutor Luciano Brunholi – o procurador chefe da regional de Rolim de Moura.
E o que o senhor percebe que mais mudou nesses anos?
Porto Velho era uma cidade pequena, só tinha uma faculdade de Direito, o número de profissionais da advocacia era pequeno, as demandas eram em quantidade muito pequenas, mas o quantitativo de trabalho era grande porque éramos poucos procuradores, então dividíamos entre esses poucos.
A diferença hoje para aquela época é que as demandas aumentaram muito contra a Fazenda Pública. A economia do Estado cresceu bastante mesmo que, infelizmente, o Rondônia não tenha conseguido acompanhar com uma estrutura adequada para esse crescimento. E com isso, muitas vezes o procurador do Estado tem que se desdobrar para fazer vários trabalhos e esse trabalho perde em qualidade. Essa é a grande diferença. Aumentou bastante o número de procuradores, mas não o suficiente para acompanhar a demanda.
Como o senhor avalia a estrutura da PGE daquela época comparada à atual?
Sem comparação. A estrutura era muito precária. O procurador trabalhava porque era bravo e tinha verdadeira paixão pelo trabalho. Eu lembro que eu trouxe o meu computador pessoal para a procuradoria e trabalhei com ele durante um longo período.
Hoje nós temos uma estrutura muito boa e hoje já se usa o computador a favor do homem dentro da Procuradoria porque a mudança de equipamento, de máquina de escrever para computador, ela só veio ocorrer a partir de 2010, pois embora já se tivesse o PC antes, não se aproveitava a tecnologia. Era como se fosse uma máquina de escrever com uma televisão na frente.
Hoje nós temos sistemas para acompanhamento processual e já avançamos bastante.
Qual, o senhor considera, o grande marco para a evolução da PGE?
A partir da gestão do governador Confúcio Moura em que ele compreendeu a importância da Procuradoria, coincidentemente, no período em fui procurador geral, entrou em vigor a lei orgânica 620, que deu uma nova estrutura para a PGE, melhorou a remuneração dos procuradores e deu uma certa garantia às pessoas que exercem esse cargo tão importante, como também privilegiou o Estado porque com essa nova estrutura, o Estado atraiu bons profissionais. Embora não tenhamos em quantidade, temos um bom plantel em qualidade aqui dentro.
Por que o senhor acha que foi escolhido como procurador geral do Estado no ano de 2011?
O governador não me conhecia e acredito que foi em razão da minha responsabilidade com o trabalho e por sempre ter me dedicado muitos às minhas tarefas. Alguém informou isso para o governado, ele me convocou e eu aceitei.
Em algum momento o senhor pensou em hesitar?
Não porque como integrante da carreira, e até por vaidade pessoal, você quer atingir o topo. Foi uma experiência muito válida e aprendi bastante.
O senhor teve alguma influência na Lei nº 620?
Ela foi redigida por poucos procuradores e eu fazia parte do grupo.
Qual o principal desafio que o senhor enfrentou durante a sua gestão como procurador geral do Estado?
Convencer o governador a mandar o projeto de lei para a Assembleia
O que o fez gostar de trabalhar na PGE durante todos esses anos?
Eu amo minha profissão, e o fato de eu ser rondoniense e poder defender o meu Estado.
Qual o legado que o senhor deixa para a PGE-RO?
O companheirismo, a minha dedicação e o destemor de enfrentar questões técnicas e burocráticas. Mas acredito que a principal seja a demonstração de dedicação, pois eu acho que não adianta você propalar que faz e acontece se você não dá o exemplo fazendo as coisas.
Qual o momento o senhor recorda ter sido mais marcante durante sua carreira na PGE?
Acredito que foi logo tempo depois de eu ter ingressado no quadro de servidores. Tivemos uma demanda judicial em que uma colega nossa estava sendo ameaçada de prisão pela Justiça do Trabalho para cumprir uma ordem judicial e nós ingressamos com várias medidas para protegê-la e para proteger o Estado. Nós recebemos vários elogios por essa ação. Nesse momento eu me senti bem atuante.
Qual o seu sentimento em relação à PGE?
Uma bela Instituição. Muito importante. Aqui eu pude desenvolver um trabalho do qual me orgulho então para mim é a minha casa.
Um profissional na área jurídica que o senhor admira?
Admiro muito uma procuradora de Minas Gerais e advogada atuante, a professora Misabel Abreu Machado Derzi.
O que o Valdecir, procurador aposentado, diria para o recém-aprovado procurador de 1993?
Valeu, era isso mesmo que tinha que fazer!
Quais os planos após a aposentadoria?
Essa jornada me deixou algumas sequelas na coluna, então pretendo cuidar mais da saúde, aproveitar mais a família, viajar… Mas a advocacia está na veia, me aposentei da PGE, mas continuo advogando. Se parar, morro.
Uma mensagem para os procuradores que continuam atuando na PGE e para os que têm interesse em ingressar na carreira.
A carreira de procurador de Estado é a mais bela da advocacia. Você pode fazer justiça advogando para o Estado. Eu fiz isso.
Uma frase para finalizar.
Não desista de sonhar.
O que os colegas de trabalho falam sobre Valdecir da Silva Maciel:
“O Valdecir é um procurador exemplar, tendo ocupado diversos cargos na Instituição, inclusive o de procurador geral do Estado. Foi fazer uma especialização no Rio de Janeiro, especialização essa que contribuiu muito para a Procuradoria, até porque a área que ele escolheu – a de Direito Tributário – é uma área um tanto quanto complexa e de poucos admiradores – vamos dizer assim – então ele deu uma contribuição muito grande. Isso sem falar da parceria, do amigo, do tanto que ele foi colaborador e sempre incentivando e voltado ao crescimento da Instituição. A PGE realmente ficou um pouco órfão porque o doutor Valdecir, merecidamente, alcançou o tempo para a sua aposentadoria e a gente, de uma maneira geral, fica muito feliz pela contribuição que ele deu, pelo amigo que ele foi e agora tendo o seu descanso” .
Lerí Antônio de Souza e Silva – Procurador Geral Adjunto
“Trabalhei com o doutor Valdecir e como profissional ele é ímpar. Apesar do jeito calado, sempre estava disposto a orientar, a discutir tese, e ensinava a gente com o maior prazer. Ele dava uma aula com a explicação e tinha muita didática. Além de ser extremamente inteligente. Como pessoa, é um ser de coração enorme. É muito humano e fazia o que era possível para ajudar quando necessário.”
Rosineide Colares Carvalho – Assessora Jurídica
Fonte
Texto: Ana Viégas
Fotos: Ana Viégas